Animais abandonados: responsabilidade de quem?

Tema de frequentes mobilizações, principalmente em redes sociais, a situação dos cachorros abandonados em São Luiz Gonzaga e das condições do Abrigo de Cães do município levanta uma questão: de quem é a responsabilidade do animal abandonado?

Ao constatarem um surto de carrapatos no Abrigo de Cães do município, um grupo de voluntários, comovidos com a saúde dos animais, realizou nesta quarta-feira um mutirão junto ao local, efetuando a retirada dos carrapatos, dando banho nos cachorros e, inclusive, ministrando doses de medicamentos. Segundo um dos voluntários, a preocupação do grupo é quanto à situação dos animais e da estrutura do abrigo de cães.

Sobre esta ação e a preocupação de pessoas voluntárias na causa dos animais, o médico-veterinário da Prefeitura Municipal, Rodrigo Nagel, responsável pelo acompanhamento e tratamento dos cachorros do Abrigo de Cães Municipal, explica o que está sendo feito para melhorar a estrutura do local e, também, o correto procedimento para quem quer ajudar e ser um multiplicador de ações em prol dos animais.

APLICAÇÃO DE MEDICAMENTOS SEM PRESCRIÇÃO - Rodrigo enfatiza que “todos os animais presentes no canil são provenientes das ruas ou com histórico de agressividade, zoonoses, dentre outras doenças. A maioria desses animais está em tratamento ou já passaram por tratamento; assim, quando há interação entre medicamentos aplicados sem prescrição de um médico-veterinário e sem saber a história clínica do animal, acaba por atrapalhar o tratamento, causando uma super dosagem ou bloqueando a ação de outros medicamentos, podendo ocasionar até a morte dos cachorros”, salienta.

CONTAMINAÇÃO - Segundo o médico-veterinário, “pessoas entrarem no abrigo de cães sem a devida autorização e o acompanhamento do médico-veterinário responsável não conhecendo a história clínica dos animais estarão sujeitas a se contaminar com alguma zoonose, serem mordidas por algum cão agressivo, disseminar doenças víricas e bacterianas no ambiente do canil, e, até mesmo, levar o agente patológico para sua casa, seus animais, podendo contaminar entes com imunidade baixa”.

CARRAPATOS – De acordo com Rodrigo, o carrapato é um parasita que pode ocorrer em animais de todas as raças e espécies de animais de nosso meio, tanto em meio rural quanto em urbano, e a época do ano mais propícia para o seu desenvolvimento e aparecimento é no verão, com climas quentes e úmidos. O profissional explica que “no Abrigo de Cães, a rotatividade de animais é muito grande, sendo que muitos chegam infectados e tomados por carrapatos, pulgas e outros parasitas. Assim, o controle dentro do canil é feito de forma estratégica e pontual na entrada de cada animal. Da mesma forma, o tratamento vem sendo feito tanto nos animais quanto no ambiente, sempre tendo em vista que o animal pode ser alérgico a determinado tipo de medicamento e alguns tipos de venenos utilizados. Sendo assim, por causa do uso indiscriminado sem a orientação de um médico-veterinário, o carrapato já apresenta uma grande resistência a medicamentos e venenos comumente utilizados pela população”, esclarece Rodrigo.

ALIMENTAÇÃO - A alimentação dos animais do canil é feita com base somente na ração, a qual conta com 20% de proteína e de alta energia e boa palatabilidade garantida pelo fabricante, sendo que uma empresa não colocaria à venda no mercado algo que realmente não pudesse comprovar sua eficiência. Sobre isso, Rodrigo explica que “o que muita vezes ocorre é que animais oriundos das ruas não são acostumados a se alimentar com ração, e necessitam de algum tempo de adaptação para a mesma, tendo em vista que a comida caseira é muito mais palatável e saborosa, cheia de temperos e aromas aos animais, mas não sendo a escolha mais saudável. Cada vez que um ‘visitante’ traz restos de comida caseira para o canil (o que é expressamente proibido), acaba gerando um problema, pois os animais não querem retornar a comer a ração que lhes és fornecida em número e quantidade suficiente para cada classe de animais presentes no canil, ficando, muitas vezes, por dias até, para se adaptar e retornar a comer a ração”.

ESTRUTURA E EQUIPE – O médico-veterinário salienta que “todo projeto é uma caminhada e se constrói por etapas. Hoje, a Prefeitura Municipal conta com dois médicos-veterinários de 20h cada, sendo que a veterinária Solange Maria Siqueira da Silveira atende no abatedouro inspecionando o abate e, eu, trabalho com o Sistema de Inspeção Municipal e todos os estabelecimentos cadastrados, junto ao Sítio Arqueológico de São Lourenço, ministrando palestras com a EMATER junto às agroindústrias e produtores e, também, no Abrigo de Cães do município. Além disso, contamos com um zelador e um carro para a realização e prestação de serviço a todo o município”.

Até o presente momento, segundo Rodrigo, “as estruturas do canil não são as melhores, mas também já estiveram muito piores”. Para ele, “a construção dos módulos restantes do Projeto Canil irá melhorar em muito as estruturas, bem como a contratação de pessoal habilitado e arrecadação de recursos financeiros para o desenvolvimento de atividades. Porém, como Prefeitura de São Luiz Gonzaga, assim como muitos outros municípios do Estado, conta com uma delicada situação financeira devido à diminuição de repasses, é preciso planejar o emprego dos recursos de forma criteriosa, evitando gastos que poderão ser prejudiciais ao erário. Assim, a construção das novas estruturas do Canil estarão sendo feitas de forma gradativa, sendo que a ala de atendimento aos animais e depósito de ração já está praticamente concluída”.

AÇÃO VOLUNTÁRIA COORDENADA- A contratação de pessoal para atuar junto à equipe do Canil também é algo que depende da situação financeira da Prefeitura a longo prazo, uma vez que a Lei de Responsabilidade Fiscal inibe o gasto com pessoal acima dos 54% do orçamento do município. Por isso, “enquanto a equipe necessária para o canil não está completa, a ação de voluntários e estagiários engajados na causa, e que querem trabalhar de forma ordenada prestando serviço sob a orientação do médico-veterinário responsável, auxiliaria em muito e melhoraria o serviço hoje prestado pelo Canil Municipal”, salienta o veterinário.

ABANDONO DE CÃES – RESPONSABILIDADE DE QUEM? - Segundo Rodrigo, “todo cachorro recolhido pelo canil é oriundo das ruas de são Luiz Gonzaga, ora por zoonose, ora por agressividade ou ataque, ou por se encontrar em situação de extremo abandono e rejeitado pela sociedade. Assim, de nada adianta o canil ser reformado, ampliado e serem contratadas mais pessoas para atuar nele se a própria população não colabora, jogando nas ruas cada vez mais filhotes de cachorros, dentre outros, resolvendo assim um problema seu e gerando um problema de ordem pública, onde toda a população acaba sendo afetada de uma forma ou outra”.

O PAPEL DE QUEM QUER FAZER A SUA PARTE - O médico-veterinário explica que “a Prefeitura já está distribuindo vacinas anticio para a população na tentativa de reduzir o nascimento, mas a situação não se resolve de uma hora para a outra. Ainda necessita-se de conscientização e bom senso para entender e solucionar os problemas! Alarde e postagens nas redes sociais não resolverão o problema, pois quem realmente quer ajudar aos animais vai lá e faz, e não tenta se promover com uma causa preocupante e que mobiliza e emociona grande parte da população que gosta de animais”, salientou.

De acordo com Rodrigo, “todos os animais do canil, à primeira vista, vão ser feios e com problemas de saúde, mas, se ver a real situação de chegada destes animais, vão constatar que há uma evolução do seu estado de saúde e aparência, uma vez que todos os cães de lá são os renegados da sociedade, doentes, com zoonose, mal tratados e que ninguém teve interesse de cuidar, nem mesmo as ONGs criadas no município, pois não era simplesmente com um banho e um perfume que se resolve este tipo de problema”, finalizou o veterinário.

ABANDONAR ANIMAIS É CRIME – A Prefeitura Municipal ressalta que o abandono de animais, assim como maus tratos, é crime previsto na Lei Federal nº 9605/98, e sua prática está sujeita a detenção de 3 meses a um ano de detenção e multa. Por isso, o Poder Público solicita a colaboração de todos para, em caso de constatação de abandono de animais, efetuar a denúncia aos órgãos policiais, como a Polícia Ambiental, como forma de inibir essa triste prática que acarreta em riscos à saúde de nossos animais e, também, da própria população, além de prejudicar significativamente o trabalho realizado em defesa dos animais. (Pela Assessoria de Imprensa da Prefeitura de São Luiz Gonzaga)